domingo, agosto 26, 2007

O Preço da Perda

A perda é a realidade dos que pensam possuir, esvai-se o amor por entre os dedos, como água do mar ou areia da praia. O possuir pressupõe a perda, que tarda mas há de chegar, mansa e silenciosa.
Perder é sentir o chão desmantelar-se numa mistura translúcida de sonhos e pesadelos, emaranhados entre as teias da realidade. A perda é o preço da prisão, da liberdade controlada e das asas presas na gaiola.
A perda é música sem som, é dia sem sol, é noite sem luar. É ser sem de fato sentir a pressão no peito dos que se pertencem sem motivos. É acordar um dia e perceber que o presente tornou-se passado, e a realidade apresenta-se sem ressalvas.
O preço da perda é deixar-se desmontar, é abrir as asas em vôo solo, mesmo caindo do ninho protegido. O preço é largar as lágrimas sem rumo, é deixar o vazio preencher-se a si mesmo sem pressa e sem destino.
A perda cobra seu preço, alto diga-se, por que sabe que à ela sobrepõem-se novos caminhos, verdade transformada, que só se justifica com o preço bem pago da perda que destrói.
Perder? É o preço de ganhar, de voar mais alto, de poder mudar a realidade que apavora. É o preço de um dia ter pertencido, mas de querer continuar pertencendo, mesmo que a posse seja o preço a se pagar.

sexta-feira, agosto 24, 2007

MINHA NATUREZA

Silêncio numa alma confusa,
olhar perdido num cenário invisível,
coração aos pulos
dissimuladamente tranquilo.

Lágrimas sem pretexto
somente lágrimas
querendo a velocidade da vida
amedrontadamente ocultas.

Vida saltitante,
sorridente, empolgante.
Sem tempo pra pensar
surpreedentemente feliz.

Pensamentos soltos,
cabeça ao vento,
sem rumo, sem destino,
somente pensamentos.

Silêncio numa alma confusa,
querendo ser sem sê-lo
despencando de si mesma,
abraçando a vida, travessia inesperada.

O Preço da Posse

A posse é benefício e é carrasca. Possuir o coração de alguém é tornar-se responsável por ele e por tudo o que lhe acomete. Junto vem o derramar que este coração proporciona, desarmado, desmanchado, desobrigado, e dedicado a este pertencer.
A posse tem seu preço. Cobrado sem querer, na respiração, no olhar e no silêncio. Basta ser para cobrá-lo. Enquanto um coração se derrete, pequenas gotas de amor, grandes lagos de admiração.
A posse é o próprio preço do amor, que não tem fronteiras, que deseja ardentemente possuir e ser possuído. Mas que por instinto não paga o preço. Debate-se em fuga desabalada, perseguição desarvorada.
De que vale a posse a preço tão alto? Não é necessário possuir, somente sentir o coração derramando e derramar-se junto. Preço e posse se confundem e se consomem. Basta ser sem fugir, basta se jogar, se atirar, despencar.
Possuir é dar passagem para a perda, para o não ter e o não pertencer. Aqueles que possuem podem perder-se nos caminhos, desencontrar-se no tempo. Abrem a fila interminável de possibilidades e medos que a posse traz consigo.
O preço da posse? Amar ser reservas, amar sem cobrar o preço daquilo que já lhe pertence.